quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Magnum, 60 anos a serviço do olhar livre.

Agência sempre ligada à fotografia autoral traz ao País 50 imagens inéditas.

São 50 imagens de alguns dos integrantes da agência francesa Magnum, que completou 60 anos em 2007. E é a primeira vez que vão ser vistas no Brasil. A exposição Magnum 60 Anos, que começa hoje, com curadoria de João Kulcsár, foi dividida em quatro temas principais: A Tradição da Magnum; Retratos; Novas Perspectivas, Fotografia Documental Contemporânea; e Magnum Motion. Divisão estranha para um grupo que sempre quis se esquivar de etiquetas, amarras ou limitações estéticas. Na história da fotografia, a agência passou de lenda a sonho, de mito a história.

Dois anos após o fim da Segunda Guerra, quatro fotógrafos já habituados a ver suas imagens nas principais revistas do mundo, como Life, Paris Match e Vu, decidem montar uma agência fotográfica. Os quatro mosqueteiros eram Robert Capa, Henri Cartier-Bresson, David 'Chim' Seymour e George Rodger. Fotógrafos de nacionalidades e estilos diferentes. A única coisa que os unia era a paixão pela fotografia. Muito mais do que agência fotográfica, a Magnum trabalhava como cooperativa, com total liberdade para que os participantes pudessem desenvolver de forma livre seus projetos. Hoje, com cerca de 80 fotógrafos associados, mais de um milhão de fotos, 100 livros publicados e mais de 120 exposições ao redor do mundo, a história da Magnum se confunde com a de seus fundadores. Seus registros também estão ligados a um tempo de guerras, transformações políticas e sociais do mundo. Os fotógrafos da Magnum estiveram presentes no Vietnã, nas manifestações pela paz nos EUA, nos movimentos estudantis em Paris de 68, na Primavera de Praga, nas guerras e guerrilhas latino-americanas, como El Salvador e Nicarágua. O espírito era o de ser o olho do leitor, transformar a imagem em foco de discussão, privilegiar a ação ao personagem, dar a impressão do tempo correndo, do imediato. O projeto era aprofundar uma estética iniciada nos anos 30, na Alemanha, por Erich Salomon, pai do fotojornalismo moderno, que trouxe a idéia do instantâneo, da imagem-átimo. Nos anos 30, porém, o equipamento ainda era de médio formato, o que impedia a realização do imaginado por Salomon. Os fotógrafos da Magnum passaram a usar a famosa Leica, a câmara 35 mm, que daria maior mobilidade e possibilidade de participação nos eventos. Desta maneira, o leitor se sentia dentro da cena. É famosa a frase de Robert Capa: 'Se sua imagem não ficou boa, é porque você não chegou perto o suficiente.' Assim como famosas são as imagens 'roubadas' pelas ruas de Paris por Cartier-Bresson, ou suas inesquecíveis fotos da Índia e da Rússia, e a guerra civil espanhola retratada por Chim. Um jornalismo engajado, sem ser militante, mas com certeza com empenho. Por isso mesmo, tornou-se o sonho de muitos fotojornalistas do mundo todo, que queriam entrar na Magnum ou criar algo parecido. Com o tempo, outros mitos da imagem foram se juntando: René Burri, Susan Meiselas, Eve Arnold, Marc Ribaud, Elliott Erwitt, Werner Bishof, Josef Koudelka, Raymond Depardon, alguns dos quais poderão ser vistos na mostra ao lado do trabalho de Paolo Pellegrin Antoine D'Agata, Dennis Stock, Steve McCurry, Jonas Bendiske, Philip Jones Griffits, Trent Park, Christopher Anderson e Martin Parr, entre outros.

Durante os primeiros anos, o olhar jornalístico de Robert Capa dominou a estética da agência. Com o tempo, porém, ela se abriu e hoje resta muito pouco daquele momento e sentimento. Não poderia ser diferente. Permanece, porém, a idéia da fotografia autoral, do olhar livre. Sua marca registrada. Assim como o jornalismo mudou nas últimas décadas, e em decorrência o fotojornalismo, a cooperativa tem transformado seu foco, sua forma de publicação. Nos últimos anos, lançou o Magnum in Motion, uma tentativa de se aproximar das novas tecnologias e formas de expressão da era digital. Por enquanto, ele ainda lembra muito o antigo audiovisual: imagens correm pela tela, uma música ao fundo e o fotógrafo narra suas aventuras ou conta como fez determinado trabalho, em suma descreve a matéria. Interessante como forma de pesquisa, de estudo, talvez curiosidade. Um pouco desse espírito e dessa passagem do tempo poderá ser visto na mostra. É importante reunir trabalhos, muitos deles já conhecidos e inseridos em nossa memória, e apresentá-los como vitrine da agência. Pode-se perceber que a Magnum permanece ativa e com trabalhos muitos bons e fotógrafos excelentes, mas a idéia dos quatro fundadores ficou mesmo no sonho.

Magnum 60 Anos. Caixa Cultural - Galeria (Av. Paulista, 2.083, tel. 3321-4400). De 3.ª a sáb., 9 às 21 h; dom., 10 às 21 h. Até 6/4. Abre hoje

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